segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Canoa Quebrada


Voo de parapente sobre as falésias de Canoa Quebrada, no Ceará
Foto: Custodio Coimbra / O Globo

Voo de parapente sobre as falésias de Canoa Quebrada, no Ceará Custodio Coimbra / O Globo



CANOA QUEBRADA - O cenário é dos melhores filmes, daqueles dignos de Oscar de fotografia. Dunas que se movem ao sabor do vento constante. A foz de um grande rio margeado por manguezais até desaguar no Oceano Atlântico. Um mar de águas frias salpicadas por pequenas jangadas que se equilibram sobre ondas com suas velas coloridas. Canoa Quebrada, no município de Aracati, no Ceará, é uma centenária comunidade de pescadores, localizada em meio a dunas, que se tornou mundialmente conhecida como rota de um público alternativo, misturando brasileiros e gringos, na década de 1970. Com o passar do tempo, transformou-se no segundo principal destino turístico do estado, atrás apenas da capital, Fortaleza. Mas, mesmo depois de 40 anos e apesar do turismo de massa, ainda atrai diversas "tribos". A magia continua, assim como o anel de lua e estrela, símbolo do local, imagem gravada na terra da falésia, cartão-postal dessa praia.

Passeios em terra, no mar e no ar

Mais do que a natureza, o que continua atraindo os turistas a Canoa Quebrada é o ambiente despojado da vila e seu cotidiano.
— Venho pelo astral do lugar, e sinto-me em casa. Ando descalça, como peixe frito com a mão e à noite danço muito. O melhor de Canoa Quebrada são as pessoas — diz Brigitte Loren, de 25 anos, arquiteta francesa, que visita o lugar pela sétima vez nos últimos cinco anos.

Hoje, para receber turistas brasileiros e estrangeiros, em sua maioria europeus, Canoa Quebrada, que está a 180 quilômetros de Fortaleza, conta com uma infraestrutura consistente: são mais de 80 pousadas, uma gastronomia regional baseada em frutos do mar — saboreados em grandes barracas de dois andares na praia — e uma frota de cem buggies que percorre os 35 quilômetros de costa (sem contar as praias adjacentes), entre o mar, as falésias, as lagoas e as dunas. Além, é claro, das lojinhas de suvenires, as barraquinhas de artesãos... Há programas em terra, mar e ar. À noite, a antiga rua de areia, chamada de Dragão do Mar, transforma-se na "Broadway do Nordeste", com lojas de artesanatos, restaurantes e bares com música ao vivo que só fecham ao amanhecer.

O programa principal, como em quase todo o Ceará, é fazer passeios de buggy. São vários roteiros diferentes, com duração de duas horas até um dia inteiro. Todos os veículos circulam pelas dunas, os mais longos alcançam as praias mais distantes, com paradas gostosas pelo caminho, para beber uma água de coco e dar mergulhos nas lagoas de água doce (mas é preciso subir as dunas na volta). Outro item desses roteiros é o esquibunda, que acontece logo no início no roteiro e está incluído em todos os passeios.

O pôr do sol visto de cima da "duna mãe", que fica bem ao lado da cidade, é um dos pontos altos. Outras opções são os barcos que navegam pelo delta do Rio Jaguaribe — com direito a paradas para mergulhos — e o passeio divertido nas jangadas de aluguel que saem de diversos pontos da praia.

Pelo ar, a prática de voo duplo de parapente com o francês Jerome Saunier, um dos primeiros pilotos a introduzir esse esporte no Brasil, popularmente chamado de voo de lift, é outro ponto alto. Devido ao vento forte e constante, o parapente parece flutuar sobre as falésias em um vaivém mágico, oferecendo uma viagem pela geografia exuberante da região.

A história do lugar remonta ao ano de 1650, quando D. Manuel, Rei de Portugal, mandou Francisco Aires da Cunha, capitão-de-mar-e-guerra, fundar vilas ao norte do Brasil. Sua caravela bateu num arrecife — rochas submersas logo abaixo da superfície da água — e partiu. A tripulação foi resgatada, mas a caravela ficou encalhada. Daí o nome do lugar. Vai ver que, para os nativos, qualquer barco era canoa...
Localizada entre dunas de areia, a colônia de pescadores viveu pacata e tranquila até o início dos anos 1970, quando alguns cineastas franceses ligados ao movimento Nouvelle Vague chegaram a Canoa Quebrada, descobrindo uma espécie de Éden tropical. Um lugar onde os homens enfrentavam o mar em pequenas jangadas e as mulheres teciam os "labirintos", obras de arte em forma de bordado. Não havia luz elétrica. Todos viviam em maio à Natureza, entre as dunas, felizes.

— Essas imagens foram muito difundidas na Europa, e Canoa Quebrada virou uma espécie de esquina do mundo. Passou a fazer parte de um circuito alternativo que incluía Goa, Katmandu, Marrakesh, Machu Picchu, Bali e Bancoc — conta Georgio Guerzoni, um italiano que chegou ao Ceará em 1986, aos 40 anos, acabou criando raízes e hoje é dono de uma das mais tradicionais pousadas da cidade, a Tropicália. — Encontrei um lugar mágico com um povo incrível, generoso, desprovido de ambição consumista — lembra o empresário.

Depois dos cineastas da Nouvelle Vague, outros filmes e documentários foram feitos em Canoa Quebrada entre os anos 1970 e 1980. Em 1998, voltou a ser cenário de um filme, desta vez nacional. "Bela donna", de Fábio Barreto, transformou de vez o lugar em um dos principais destinos turísticos do Nordeste.
Hoje, além da natureza, da boa gastronomia, do artesanato e da música local, é a tela grande que continua dando um ar especial à pequena localidade. Há sete anos Canoa Quebrada é sede de um dos mais tradicionais e alegres eventos de cinema do país, o Festival Internacional de Curta Metragem, conhecido como Curta Canoa. Suas oficinas que duram o ano inteiro não param de formar técnicos, cenógrafos e diretores. Todos nascidos ali na região.


Fonte: http://oglobo.globo.com/boa-viagem/de-pernas-para-ar-em-canoa-quebrada-3762610

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